segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Pesquisa analisa aplicação de vacina contra HPV após parto

Pesquisa analisa aplicação de vacina contra HPV após parto

Considerada a doença sexualmente transmissível (DST) mais comum no mundo todo, o Vírus do Papiloma Humano (da sigla em inglês, HPV) é o principal responsável pelo desenvolvimento do câncer de colo do útero, também conhecido como câncer cervical. Em pesquisa feita em uma maternidade pública da capital paulista, a médica Cristina Helena Rama constatou que quase 60% das mulheres entre 15 e 24 anos, que acabaram de ter o primeiro filho, possuem o HPV.

As pesquisas apontaram que cerca de 60% das mulheres analisadas tinham HPVRecentemente, dois laboratórios estrangeiros desenvolveram vacinas para os tipos virais, 16 e 18, responsáveis por 70% dos casos de desenvolvimento de câncer de colo uterino. Cristina desenvolveu sua pesquisa de doutorado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) visando a viabilidade da aplicação da vacina em mulheres após o primeiro parto. Para isso, ela entrevistou e examinou 301 mulheres de 15 a 24 anos, cujo parto ocorreu no Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, ligado à rede pública estadual e localizado na Zona Leste de São Paulo.
A pesquisadora acha importante frisar que a situação ideal seria vacinar as mulheres ainda antes do início da atividade sexual, preferencialmente entre os 11 e 12 anos. “O ideal mesmo seria antes da exposição (ao HPV) pelo contato sexual”, completa Cristina. Contudo, a pesquisa feita por ela procurou saber se ainda era viável a aplicação da vacina ainda após o primeiro parto.
Para isso, as participantes da pesquisa foram submetidas a um exame que não somente apontava se a mulher tinha ou não HPV, mas também qual o “tipo” do vírus — que possui cerca de 200 variações. Isso é importante pois a vacina desenvolvida pelos laboratórios previne somente dois tipos considerados de alto risco. Uma delas ainda protege adicionalmente contra os tipos de baixo risco 6 e 11.
Perfil das analisadas
Para que a pesquisa possuísse resultados mais efetivos, a pesquisadora caracterizou o perfil socioeconômico das entrevistadas. Além disso ela questionou sobre o conhecimento em relação à doença.
Com relação à escolaridade, cerca de 88% das mulheres possuíam oito ou mais anos de estudo, ou seja, ensino fundamental completo. Para se ter uma ideia, no Brasil, 51% das mães entre 15 e 24 anos, atingem essa escolaridade. Por outro lado, a renda familiar dessas mulheres é baixa. Mais de dois terços das famílias da qual elas fazem parte possuem renda total igual ou inferior a três salários mínimos.
Sobre o conhecimento da doença, somente 37% das analisadas já “tinham ouvido falar do HPV” e somente 19% sabiam que se tratava de uma DST. Sobre a relação entre o HPV e o câncer de colo do útero, esse conhecimento cai para 7%.
Resultados
A pesquisa feita apontou que 58,5 % das mulheres possuíam algum tipo do vírus. “É uma infecção frequente, porém, na grande maioria das vezes a mulher a contrai e não tem manifestação nenhuma. Em torno de 80% a 90% das mulheres que contraem o HPV consegue elimina-la sem ter sintoma nenhum num prazo de aproximadamente dois anos”, explica Cristina.
Entretanto, a pesquisadora se surpreendeu com o alto índice de infecção, mesmo sabendo que as jovens o grupo em que a prevalência da doença é mais comum. E quanto mais jovem mais propensa a adquirir a doença. No caso da pesquisa feita pela médica, quase 70 % das jovens com idade entre 15 e 18 anos possuíam HPV, já no grupo entre 22 e 24 anos, aproximadamente 50% das mulheres eram portadoras do vírus. Cristina esclarece que isso se deve também devido à imaturidade do canal cervical e do colo do útero que ainda estariam passando pelas transformações iniciadas na adolescência.
Um dado importante é que 44% das mulheres possuíam algum tipo de HPV de alto risco, ou seja, responsável pelo desenvolvimento de câncer. Contudo, somente cerca de 14% das mulheres possuíam os tipos virais 16 e 18, aqueles para os quais as vacinas foram criadas.
Dessa forma, a pesquisadora entende que ainda é viável a vacinação nas mulheres jovens, mesmo entendendo que não se trata da idade ideal. Entretanto, seria uma alternativa para aumentar a cobertura da vacina tendo em vista que a vacinação de adolescentes normalmente apresenta baixa cobertura. Ela ainda ressalta que o fato de estarem mais presentes nos serviços preventivos de saúde por causa dos filhos recém-nascidos facilitaria o processo de vacinação das mães.
Mais informações: crisrama@usp.br, com a pesquisadora Cristina Helena Rama. Tese orientada pelo professor José Eluf Neto da FMUSP

Veículo:
  Agência USP de Notícias de 14 de Setembro de 2009

Autor:
  Rodrigo Martins

Fonte:
  http://www.usp.br/agen/?p=4187

Estudo analisa efeitos adversos de aditivos alimentares à saúde infantil

Estudo analisa efeitos adversos de aditivos alimentares à saúde infantil

ENSP, publicada em 04/08/2009
Analisar os riscos acarretados pelo consumo de aditivos alimentares foi o objetivo do artigo 'Consumo de aditivos alimentares e efeitos à saúde: desafios para a saúde pública brasileira', publicado na edição de agosto da revista Cadernos de Saúde Pública (CSP), da ENSP. O artigo foi escrito pela doutoranda em Saúde Pública Maria Lúcia Polônio, que investiga efeitos adversos à saúde de crianças devido ao uso de aditivos alimentares e associa essa ingestão com o risco de neoplasias, transtornos de déficit de atenção com hiperatividade e também hipersensibilidade alimentar. Segundo a autora, as crianças fazem parte de um grupo mais vulnerável em razão do consumo potencial de alimentos com esses aditivos, principalmente os que contêm corantes artificiais.

O artigo é uma revisão sistemática da literatura acadêmica e faz parte da pesquisa de doutorado de Maria Lúcia, intitulada 'Percepção de risco de pais ou responsáveis de pré-escolares no Município de Mesquita, Rio de Janeiro, associada ao consumo de aditivos alimentares', orientada por Frederico Peres, pesquisador do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP).

De acordo com o texto, a OMS define aditivos alimentares como "qualquer substância que, enquanto tal, não se consome normalmente como alimento, nem tampouco se utiliza como ingrediente básico em alimentos, tendo ou não valor nutritivo, e cuja adição intencional ao alimento com fins tecnológicos em suas fases de fabricação, elaboração, preparação, tratamento, envasamento, empacotamento, transporte ou armazenamento, resulte ou possa preservar razoavelmente por si, ou seus subprodutos, em um componente do alimento ou um elemento que afete suas características".

Para Maria Lúcia, a ingestão desses aditivos alimentares tem aumentado nas últimas décadas e isso vem atraído a atenção de órgãos reguladores e da comunidade científica como um todo, pois inúmeros estudos apontam reações adversas agudas e crônicas a esses aditivos, entre elas reações tóxicas no metabolismo desencadeantes de alergias, alterações no comportamento, e outras.

"A substituição de alimentos in natura por processados contribui de forma contundente para o empobrecimento da dieta. Consequentemente, este fato contribui para o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, responsáveis principalmente por doenças do aparelho circulatório, diabetes e neoplasias. Além de a dieta ter sofrido modificações ao longo do tempo, a tecnologia aplicada pela indústria de alimentos com o intuito de aumentar o tempo de vida útil desses produtos tem gerado questionamentos relacionados à segurança do uso de aditivos, principalmente no que diz respeito à corantes artificiais", comentou ela.

Índice relacionado à saúde infantil é grande preocupação

A avaliação dos aditivos alimentares no âmbito mundial é baseada no controle da Ingestão Diária Aceitável (IDA), índice desenvolvido pelo Comitê de Especialistas em Aditivos Alimentares da Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Maria Lúcia ressalta que a IDA relacionada à saúde infantil é uma grande preocupação, pois esse grupo está entre os maiores consumidores desses produtos e, além disso, estão entre os mais suscetíveis à reações adversas.

A pesquisadora apontou que "existem vários produtos no mercado, como iogurtes, gelatinas, refrigerantes, biscoitos, balas, dentre outros, que são consumidos tanto por crianças como por adultos, e que não estão sujeitos à normatização, o que torna a criança mais vulnerável. Deve-se levar em consideração a frequência com que os aditivos são consumidos pelas crianças, a quantidade de substâncias por kg/peso, a falta de capacidade cognitiva para controlar o consumo e a imaturidade fisiológica desse grupo, que prejudica o metabolismo e a excreção dessas substâncias".

Os resultados dos estudos que associaram o consumo de aditivos apontaram carência de pesquisas sobre o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Em relação à hipersensibilidade não específica, o número de estudos foi significativo e os resultados mais consistentes quanto às manifestações clínicas de rinite, urticária e angioedema provocadas pelos aditivos, em particular pelos corantes artificiais. "Esses resultados indicam que estudos de consumo de aditivos alimentares deveriam servir de base para a elaboração de estratégias de vigilância alimentar e nutricional, com a finalidade de reduzir o consumo dessas substancias e promover hábitos alimentares mais saudáveis na população, principalmente nesses grupos mais vulneráveis".

Fonte:
Ensp.fiocruz

Cartão vermelho para os corantes.





 Cartão vermelho para os corantes.






Os remédios, hoje em dia, têm cores cada vez mais atraentes. Mas você sabia que todo esse colorido que ingerimos é desnecessário para o efeito que se espera? Os aditivos - entre os quais estão os corantes - são substâncias adicionadas aos medicamentos e alimentos para tornar seu aspecto mais atraente e para acentuar o sabor, mas não têm nenhum valor terapêutico. Muito pelo contrário.

O primeiro ponto negativo é que o uso de corantes pode estimular o consumo inadequado dos medicamentos, principalmente pelas crianças, já que a cor chama a atenção e o sabor docinho pode ser confundido com uma das guloseimas que elas costumam ingerir. Sem contar que determinados corantes vêm sendo associados aos distúrbios de atenção e hiperatividade dos pequenos - segundo ponto negativo dessas substâncias.

Um estudo feito na Universidade de Southampton, na Inglaterra, publicado pela revista científica Lancet em 2007, mostrou que corantes e conservantes podem estar relacionados à hiperatividade e a distúrbios de concentração das crianças. No teste, o grupo de crianças que ingeriu a mistura com alto grau de aditivos teve "efeitos adversos significativos" em comparação com o grupo que bebeu a mistura placebo, sem corantes.

Apesar de perigosa, essa relação ainda não está totalmente esclarecida. "Estudos que avaliaram o uso de tartrazina [um dos tipos de corantes utilizados em medicamentos] e o aparecimento de distúrbios de comportamento em crianças, como a hiperatividade, ainda não permitiram estabelecer uma relação definitiva entre eles", esclarece Cristina Miuki Abe Jacob, coordenadora da Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Mas a relação entre esse corante e as reações alérgicas, entretanto, é amplamente documentada. É por essa razão que existe um alerta específico para o tartrazina nos medicamentos (RDC no 137/03 da Anvisa).

O Idec recomenda, nesses casos, o princípio da precaução. Sempre que você puder, deve evitar medicamentos com corantes - princi- palmente se eles forem dados a crianças. Para ajudar nessa tarefa, pesquisamos produtos de uso comum na pediatria - e seus correspondentes para uso em adultos - e descobrimos que 67% dos 57 medicamentos escolhidos utilizam corantes.

QUE COR É ESSA?

A primeira conclusão da pesquisa é de que é difícil fugir dos corantes - ou de algum tipo específico deles - sem a ajuda de um especialista no assunto. "Não há padronização entre os fabricantes na maneira de identificar os corantes presentes nos produtos. O corante amarelo crepúsculo, por exemplo, é identificado em alguns produtos como amarelo no 6, enquanto o amarelo tartrazina pode ser encontrado como amarelo no 5. O consumidor fica exposto aos riscos dessa informação pouco clara", alerta Mirtes Peinado, técnica do Idec responsável pela pesquisa. Com relação ao amarelo tartrazina, essa falta de clareza é uma infração grave, já que a presença do corante deve ser explicitada na embalagem dos medicamentos, de acordo com a RDC no 137/03, da Anvisa. No AAS infantil, por exemplo, essa informação não consta do blister. Apesar de a resolução obrigar o alerta apenas na embalagem principal, o Idec acredita que todas as partes dos medicamentos deveriam trazer essa informação, já que alguns remédios são vendidos apenas no blister.

Fonte:
Idec

sábado, 26 de setembro de 2009

Serviço de dermatologia desvenda dermatoses adquiridas no trabalho

Serviço de dermatologia desvenda dermatoses adquiridas no trabalho

Informe Ensp
Com linhas de atuação no ensino, na pesquisa e na assistência, o Serviço de Dermatologia Ocupacional do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) vem se destacando como mais um serviço de excelência da Fundação em favor da saúde do trabalhador. Coordenado pela dermatologista Maria das Graças Mota Melo, o serviço recebe cerca de 12 novos casos de dermatose ocupacional por mês. Recentemente, ela e a dermatologista Fernanda Torres, da UFRJ, publicaram artigo na revista Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology sobre dermatite de contato pelo níquel, no qual fazem uma revisão sobre todos os aspectos relacionados à alergia a esse metal.
 

 Teste verifica liberação de níquel pelos objetos
Teste verifica liberação de níquel pelos objetos
Segundo o Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, as dermatoses ocupacionais são todas as alterações das mucosas, pele e seus anexos que sejam direta ou indiretamente causadas, condicionadas, mantidas ou agravadas por agentes presentes na atividade ocupacional ou no ambiente de trabalho. Por conta disso, representam parcela ponderável das doenças profissionais, e sua prevalência é de avaliação difícil e complexa.
Um trabalho de detetive
Desse modo, o trabalho realizado pelas dermatologistas da Ensp consiste justamente em investigar e esclarecer os casos suspeitos da dermatose adquirida no trabalho. O serviço recebe trabalhadores encaminhados pela rede do Sistema Único de Saúde, por sindicatos ou INSS, e inicia o processo de investigação na maior parte das vezes por meio do teste de contato, que detecta a causa da alergia. O produto emitido pelo serviço é um laudo técnico que informa se o trabalhador possui dermatose ocupacional, se tem condições de continuar no trabalho, quais as medidas de proteção e prevenção que devem ser adotadas, ou até mesmo a sugestão de mudança de atividade.
As dermatoses ocupacionais são consideradas acidentes de trabalho pela legislação. De acordo com a coordenadora do Serviço de Dermatologia, é importante que o trabalhador tenha uma legislação voltada para esse tipo de acidente de trabalho, mas o percurso até o reconhecimento da doença é longo, e poucos são contemplados. "Existe uma dissociação entre a legislação e o esclarecimento para os próprios profissionais do serviço de saúde sobre as dermatoses ocupacionais. Para começar, não existe serviço especializado em dermatose ocupacional fora da Fiocruz no Rio de Janeiro, os médicos não são preparados, e os trabalhadores não têm ideia de que se trata de uma doença acometida pelo trabalho. Dessa forma, há uma subnotificação dos casos. Não há um trabalho em conjunto que permita que o trabalhador chegue ao INSS com todas as informações para o uso de um direito que é seu".
Pedreiros apresentam os casos mais graves
Fernanda Torres ratifica as palavras de Maria das Graças e dá ênfase ao trabalho de detetive feito pelas pesquisadoras. "É uma área difícil de pesquisa e atuação. É complicado evidenciar e comprovar que a pessoa adquire a doença no trabalho. Às vezes, um trabalhador chega aqui dizendo que é alérgico à tinta e que desenvolveu a alergia após usá-la no trabalho. Daí, fazemos uma bateria de exames e comprovamos que ele é alérgico mesmo. Mas isso é um trabalho de detetive. A gente pede para ele trazer os rótulos das tintas que usou e fotografar aspectos do trabalho, pois não basta descobrir que a pessoa é alérgica. O trabalho consiste em desvendar se a alergia foi desenvolvida no processo de trabalho. Temos que fazer o nexo causal entre a doença e sua obtenção no trabalho. Aí sim, o dermatologista consegue estabelecer que ele possui uma dermatose ocupacional. Só que nem sempre as pessoas conseguem trazer os rótulos das tintas, fazer as fotos, sendo que, para nós, é necessário verificar a composição da substância pela qual ele é alérgico".
De acordo com as dermatologistas, os casos mais graves são os dos pedreiros. Como há demora em estabelecer o diagnóstico, e eles não usam proteção quando lidam com o cimento, já chegam ao Serviço de Dermatologia em estado grave. Entretanto, também há muitos casos de dermatose nos pintores, pessoas da limpeza, manicures. De acordo com Maria das Graças, é importante detectar o mais cedo possível que a doença tem relação com a atividade exercida. Se tiver, a primeira medida é afastar o trabalhador do contato com o produto. Se isso acontece, 25% dos pacientes ficam curados e 50% evoluem com algumas recaídas. "Normalmente, os outros 25% não são curados de maneira alguma".
A pesquisadora tem ministrado aulas nos cursos de saúde do trabalhador da Ensp, de toxicologia, de direito e saúde, além de um curso sobre a dermatologia ocupacional na Uerj. Com Fernanda Torres e Antonella Tosti, do Departamento de Dermatologia da Universidade de Bolonha, ajudou a compor o artigo sobre dermatite de contato pelo níquel, publicado na revista Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology. Trata-se de um artigo de revisão sobre todos os aspectos relacionados à alergia ao níquel. "Analisamos onde ele se encontra, os tipos de alergia, como se faz o diagnóstico, o tipo de tratamento em relação aos profissionais que trabalham com a substância, ou seja, a gente contemplou tudo o que há em torno desse tipo de alergia", revelou Fernanda.
Artigo está aberto para consulta na internet
O níquel, de acordo com as pesquisadoras, está presente em todos os lugares. É um metal sobre o qual somos expostos desde criança, quando se coloca um brinco no bebê, um óculos nas crianças. Ele está no crachá, na caneta; enfim, estamos em contato com o níquel desde o momento em que acordamos", disse Maria das Graças. As alterações mais comuns são a pele avermelhada, com descamação e coceira. No Serviço de Dermatologia da Ensp, é realizado um teste prático para verificar se algum objeto está liberando níquel. "Ele funciona para identificar e provar se o produto está liberando ou não a substância. Quanto maior for a liberação, maior a intensidade da coloração rosa. O lugar mais comum de alergia é a orelha, por causa do brinco; a barriga, por conta do botão da calça; e o punho, por causa do relógio", completou. No caso do trabalhador, o eczema nas mãos é a principal causa de incapacidade para o trabalho.
O artigo está aberto para consulta na internet e os interessados podem acessá-lo de graça. O texto também aborda a exposição ao níquel pela ingestão de alimentos e foi composto por meio de um convite da pesquisadora italiana. O artigo está em inglês e pode ser acessado aqui.
Publicado em 6/7/2009.


Fonte:
Fiocruz

Consultas ao ‘Dr. Google’ sobre doenças preocupam médicos

Consultas ao ‘Dr. Google’ sobre doenças preocupam médicos

Automedicação e informações incorretas são os grandes riscos.
Pesquisadora diz que surge um novo ator social, o 'paciente expert'.
Carolina Lauriano Do G1, no Rio
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A médica e doutoranda da Fiocruz Helena Garbin estuda a nova relação médico-paciente que a internet provoca (Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal)

Que a internet modificou todo o sistema de comunicação do planeta, todos sabem. Mas um detalhe está deixando alguns médicos em alerta: são os internautas que buscam informações na área da saúde e chegam aos consultórios com opiniões já formadas ou até se automedicam.

Para esses pacientes, o site de pesquisa da internet Google vira a autoridade 'Dr. Google'. Por outro lado, pesquisadores acreditam que a web também pode melhorar a relação do médico com o paciente.

Essa discussão é o tema da tese de doutorado da médica Helena Garbin, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp): “Se a informação sobre saúde e doença está acessível na internet, muitas vezes ela é incompleta, contraditória, incorreta ou até fraudulenta”, afirmou ela, que nomeia o novo ator social como 'paciente expert'. “Ele é um paciente que busca informações sobre diagnósticos, doenças, sintomas, medicamentos e tratamentos”.

De acordo com o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação, órgão responsável pela produção de indicadores e estatísticas sobre o uso da internet no Brasil, 33 % do total de usuários buscam informações relacionadas à saúde.

“É um fenômeno importante e é sem volta. Não tem retorno, esse processo vai continuar”, ressaltou a médica. Ela citou dois pontos positivos em ser um ‘paciente expert’: primeiro, ele tem mais informação sobre o seu estado de saúde e, com isso, pode se tratar melhor. “Ele compreende por que fazer determinadas coisas e vai fazer com mais naturalidade”. O segundo ponto a favor é que o diálogo não é mais de cima pra baixo: “Não é mais o médico mandou, você obedece”, afirma Garbin.

Porém, os pontos negativos estão em maior quantidade: “Você pode ter pessoas arrogantes que exigem que o médico receite determinado remédio; tem paciente que fica aborrecido porque acha que sabe mais do que o médico; existe o risco do automedicamento; e existe o risco do autodiagnostico, quando a pessoa se trata de forma incorreta e pode até morrer”.
Dr. Google já assustou muita gente
A publicitária Clarissa Ferreira, de 28 anos, é freqüentadora do ‘Dr. Google’ confessa: “O 'Dr. Google' é o que há! Sempre consulto por curiosidade, antes de ir ao médico, porque sou muito ansiosa”. Para ela, as informações encontradas na internet são mais exageradas do que o que o médico fala.

E foi numa dessas que ela passou por um susto grande. Adepta da corrida, a publicitária teve uma lesão no pé, mas não sabia ainda o que era. “Quando peguei a ressonância, tinha lá escrito ‘medula óssea’. Entrei na internet e a pesquisa começou a dar ‘leucemia’, fiquei em pânico, comecei achar que tinha algo muito sério e não era nada disso, era só uma fratura na fíbula. Eu chorei e tudo”, confessou.

“Já tomei muitos sustos com o 'Dr. Google', mas eu continuo consultando, não confio somente no médico”, disse Clarissa.

A empresária Luciane Shimizu não vai ao médico sem antes ir à internet (Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal)

A consultora de Tecnologia da Informação (TI), Patrícia Shimizu, de 28 anos, contou que a irmã mais velha é outra viciada no 'Dr. Google': “Ela pesquisa tudo para todo mundo da família e tira as conclusões dela. Vai para o médico com toda a pesquisa feita na internet. Teve uma vez que ela me assustou muito, achando que a minha mãe estava com câncer de mama, e eu morava em outra cidade, sozinha. Fiquei com muita raiva. Para mim, não ajuda, eu me desespero sempre, não gosto nem de olhar exame”.

A irmã, a empresária Luciane Shimizu, se defende: “Eu pego qualquer resultado e já vou ver, palavra por palavra. Mas nunca me automedico. A internet me tranquiliza mais do que preocupa. Minha sogra está com um tumor, eu vi na internet que era benigno e ficamos mais calmos”.
Consultas médicas de hoje são mais curtas
A corretora de imóveis Ana Maria Parkinson Martins, de 67 anos, também já teve experiências boas e ruins na busca por informação na área da saúde. Ela teve uma hérnia de disco e acabou descobrindo um médico, na internet, que falava de um novo tratamento, com uma agulha que fazia o disco crescer. Ana Maria pesquisou sobre o procedimento e chegou a mudar o plano de saúde para se consultar com o profissional. Não deu resultado.

“Um outro médico que eu fui depois disse que não ia adiantar nunca, porque além do disco tinha uma vértebra fora do lugar. Acabei operando e colocando parafuso”, afirmou ela.

“Eu não me automedico, mas descubro, nesses sites que tem fóruns, depoimentos de pessoas que têm o mesmo problema. Para isso é muito bom. Eu sinto que hoje em dia os médicos não têm interesse de pesquisar mais a fundo o que você tem. As consultas são muito rápidas, sinto que não tem mais aquele médico de antigamente que ia na sua casa, examinava você, hoje eles examinam seus exames”, contesta.

O curto tempo de consulta médica também preocupa a doutoranda Helena Garbin. “Esse é um problema grave. Com que tempo , com a estrutura sobrecarregada, você discute informação, diagnóstico, constrói um diálogo com o paciente? O médico de hoje tem uns cinco empregos, como ele ainda vai estudar e ficar na internet?”, indaga a doutoranda, alegando que a tendência, por conta disso, é as pessoas buscarem informações sobre saúde na internet. “Não é só a postura do médico que tem que mudar, é a estrutura da saúde”, afirmou.
Solução: orientações para uso de sites
André Pereira, médico e orientador da doutoranda Helena Garbin na Ensp, estuda a relação médico-paciente há 20 anos. Para ele, o grande perigo é que na internet não há controle na divulgação da informação.

“É um problema grave. O Pierre Lévy (filósofo francês e estudioso sobre a relação entre o virtual e o real) faz uma analogia entre a internet e o dilúvio da Arca de Noé. Estamos com a água já subindo e matando as informações. Temos que criar arcas, ou seja, lugares com informações boas e corretas. Nós vamos começar a fazer isso na Fiocruz, mas já temos pessoas realizando isso timidamente. São médicos que analisam sites e recomendam sites adequados, essa é a saída: criar orientações para uso de site”, afirmou.

Além dos profissionais, a idéia é que os pacientes também avaliem os sites, para que a linguagem seja acessível a todos. O laboratório de avaliação de sites da Fiocruz, segundo Pereira, deve funcionar até o fim de 2009.

Para Helena, a busca de informações ligadas à saúde na internet aproxima o médico do paciente, porque este passa a ter conhecimento para fazer perguntas e dialogar, o que, para ela, é importante: “Nos Estado Unidos e na Inglaterra isso está mais intenso. O governo tem um site para garantir que a informação seja de qualidade”, exemplifica.

Fonte:
G1